PROXECTO EPÍSTOLA

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TEMÁTICA: A galecidade na obra de Guimarães Rosa

[libro] Discurso de ingreso na Real Academia Galega de Valentín Paz Andrade. Foi publicado por Ediciós do Castro dentro da súa liña Ensaio.
Epístolas
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Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
Data Relación Remitente - Destinatario Orixe Destino [ O. ] [ T. ]
1974-11-08
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1974
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1974 en 08/11/1974

Rio de Janeiro, 8 de novembro de 1974



Ilustre Amigo Dr. Valentín Paz-Andrade,

Chegaram-me no mesmo dias suas duas amáveis cartas de 21 e de 30 de outubro. Elas me deram muita alegria não só por trazerem boas noticias do Amigo, como também por serem as primeiras cartas em galego que recebi em minha vida.
Li com compreensível satisfação as suas apreciações generosas acerca da Seleta e aguardo com o mais vivo interesse os comentários que me promete acerca de certas interpretações minhas. Suas observações e discordâncias serão de grande proveito, inclusive no preparo de uma eventual segunda edição.
Gostei de saber que recebera as cópias do Prefácio de G.R. á Antologia do Conto Húngaro e do meu artigo sobre os estrangeirismos na obra dele; que o Senhor não se esquecera da minha sugestão de traduzir um dia «A terceira margem do Rio»; e que o seu discurso de posse está-se avolumando, tomando proporções de livro.
Comunique-me as suas dúvidas acerca da cronologia da vida de Guimarães Rosa; tentarei resolvê-las.
Quanto à primeira esposa do escritor, posso informá-lo de que ela vive ainda e reside no Rio, casada em segunda núpcias. Não a conheço. (Quando conheci João Guimarães Rosa em 1945, ele já vivia há anos coma a segunda esposa, D. Aracy.) D. Vilma poderá dar-lhe, sem dúvida, informações sobre a família da mãe.
Desde já agradeço-lhe os livros cuja remessa me anuncia: os seus dois volumes, que permitirão aprofundar o nosso conhecimento, e o de Valle-Inclán, que, depois de suas referências, aguardo com viva curiosidade.
Queira aceitar as lembranças mais cordiais do admirador e amigo


Paulo Rónai

1977-12-02
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1977
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1977 en 02/12/1977

Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1977



Caríssimo Amigo Valentín Paz-Andrade,


Eis-me afinal de volta ao Rio. De Lisboa, última etapa da minha viagem, mandei-lhe um cartão postal que espero tenha recebido.
Guardo da viagem uma multidão de recordações maravilhosas. Avultam entre elas as de Vigo e, em geral, as de Galícia, que hei de conservar com particular carinho. O Amigo tudo fez para que eu voltasse ao Brasil como um apaixonado da sua terra e conseguiu plenamente o seu intento. A nossa visita à Editora, a nossa ida aos dois promontórios de Vigo, o desembarque do pescado no porto, a visita aos Museus de Vigo e de Pontevedra, o passeio pelas ruas adoráveis de Santiago, pela catedral, pelo Hostal dos Reis Católicos, o almoço no restaurante El Asesino... tudo ficou gravado para sempre na minha memória.
Fiquei especialmente cativado pela gentileza de D. Pilar que, apesar de estar coma obras em casa, encontrou tanto tempo para mim e até assistiu à minha palestra.
Por tudo isso, mando-lhes uma vez mais os meus reiterados e sentidos agradecimentos.
Cheguei aqui bastante cansado e logo topei com o verão mais quente. De mais a mais, encontrei a minha mesa atapetada de correspondência acumulada na minha ausência. Por isso não pude, até agora, ir nenhuma vez à cidade, nem procurar o exemplar de Estas Estórias que me pediu. Ficará para a semana que vem.
Mas copiei o texto da minha conferência que, se bem me lembro, o Dr. Fernández del Riego pediu para publicação. Ei-lo à sua disposição.
Li atentamente o seu discurso de posse que, pelas suas amplas perspectivas, pela novidade de sua tese e pela sua extensa documentação supera de muito a maioria dos trabalhos análogos. Atendendo a seu pedido, fiz algumas observações à margem, retificando alguns pormenores sem maior importância. Vão também anexas à presente.
Afinal, sempre atendendo a seu honroso convite, tentei dizer, numa introdução a ser ante posta ao texto impresso do discurso, a forte impressão que ele me fez. Espero que o julgue aproveitável.
Resta-me apenas, já que o fim do ano se aproxima, desejar ao querido Amigo e à sua gentilíssima Senhora, um Natal muito feliz e um venturoso Ano Novo.

Paulo Rónai



[Endadido a man:]

Cara Amiga D. Pilar,

1978-05-31
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978 en 31/05/1978

Rio de Janeiro, 31 de maio de 1978



Querido Amigo Valentín Paz-Andrade,

Agradeço-lhe ao mesmo tempo a sua carta de 10 de abril de Vigo e o belo cartão de Veneza. Ambos me despertaram fundas saudades por virem de lugares caros a meu coração.
Fiquei satisfeito de saber que recebeu a minha remessa dos livros de Guimarães Rosa, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Carlos Drummond de Andrade.
Estou esperando com impaciência o seu livro A Galecidade na obra de Guimarães Rosa. Atendendo a seu pedido, aqui vão os endereços de alguns escritores e críticos merecedores de um exemplar. Mas seria interessante, antes de mais nada, o Amigo remeter um exemplar à Viúva de Guimarães Rosa, D. Aracy (R. Francisco Otaviano, 35, 5º and., Copacabana) e ao nosso comum amigo José Olympio Pereira Filho (R. Marquês de Olinda 12).

Eis a relação pedida:
Rio de Janeiro
Alceu Amoroso Lima, R. Paissandu 200. ap. 701 (Flamengo)
Antônio Houaiss, Av. Epitácio Pessoa 4560, ap. 1302 (Lagoa)
Cyro dos Anjos, R. Domingos Ferreira 242, ap. 302 (Copacabana)
Josué Montello, Av. Atlântica 3018, ap. 902 (Copacabana)
Octavio de Faria, Praia de Botafogo 28, ap. 701 (Botafogo)
Odylo Costa Filho, Av. Rui Barbosa 430, 2º and. (Flamengo)
R. Magalhães Junior, R. Marechal Mascarenhas de Moraes 100, ap. 701 (Cop.)
Gilberto Mendonça Teles, R. Pompeu Loureiero 36, ap. 802 (Copacabana)

São Paulo
Alfredo Bosi 04358, Av. Horácio Lafer 803

Uberaba (MG)
Mário Palmério, Av. Guilherme Ferreira 217

Porto Alegre (RGS)
Guilhermino César, Av. Independência 779, ap. 1501

Respondendo à sua pergunta, informo-o de que ainda não me chegou às mãos o número da revista Grial, que, segundo o Amigo me comunica, tinha publicado a minha palestra.
Para terminar esta carta, vou fazer-lhe mais um pedido.
Lendo aos poucos os volumes da preciosa coleção galega que devo a sua gentileza (no momento estou percorrendo o magnífico Diario de viagem de Castelao), verifico que precisaria de um dicionário galego (unilíngue, ou galego-espanhol ou galego-português). Posso pedir à sua inesgotável gentileza o obséquio de me arranjar um?
Queira aceitar, com meus agradecimentos antecipados, minhas lembranças mais cordiais e apresentar a D. Pilar os meus cumprimentos com um abraço de Nora

[Engadido a man:] Seu fiel amigo

Paulo Rónai

1978-08-13
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1978 en 13/08/1978

Rio de Janeiro, 13 de agosto de 1978


Caro Amigo Valentín Paz-Andrade,

Acabo de receber o exemplar de A Galecidade na Obra de Guimarães Rosa, com a sua generosa dedicatória. Embora conhecesse o trabalho, foi uma nova emoção revê-lo em letra de forma. E é para mim motivo de profunda alegria ter o meu nome ligado a esse marco de Guimarães Rosa em terras galegas. Dou-lhe parabéns simultâneos pela posse na Academia e pela publicação do livro.
Li com interesse e satisfação o belo discurso de recepção do Dr. Alvaro Cunqueiro, que me revelou mais alguns aspectos da sua inesgotável atividade.
Guardarei o volume com afeto, como a lembrança mais valiosa da minha passagem pela Galiza.
Imagino que o Amigo quererá divulgar o trabalho no Brasil. Sugiro-lhe que, juntamente com o exemplar dedicado pessoalmente a José Olympio, remeta certo número de exemplares, no mínimo uma dúzia, a Livraria José Olympio, às mãos de Daniel Pereira, que os distribuirá a pesquisadores, estudiosos e bibliotecas. Por outro lado, queira remeter, para meu endereço, exemplares dedicados a nossos amigos comuns, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Carlos Drummond de Andrade, que entregarei com muito prazer.
Continuo pensando muito no Amigo, em D. Pilar e nos dias inesquecíveis passados em sua companhia –especialmente nessas últimas semanas, ao ler o grande romance da Pardo Bazán, Los pazos de Ulloa. Descobri com certa surpresa muitas analogias, entre a Galiza do fim do século XIX e a Hungria da mesma época.
Quando tiver um instante, dê-me notícias. A política tem-lhe deixado tempo para a advocacia? A advocacia para a literatura? e as três para viver, viajar, descansar?
Eu tenho tentado misturar trabalho e descanso, mas, para dizer a verdade, tenho trabalhado mais que descansado. No momento estou acabando o meu dicionário português-francés e, ao mesmo tempo, estou empenhado na compilação de uma Seleta de Aurélio Buarque de Holanda, semelhante à de Guimarães Rosa. Ultimamente dei conferências em cidades do Estado de São Paulo. Enquanto isto, estamos construindo uma biblioteca em anexo a nossa casinha de Nova Friburgo, para onde nos pretendemos retirar definitivamente em 1979 e onde espero poder recebê-lo em sua próxima volta ao Brasil.
Reiterando os meus agradecimentos, subscrevo-me com o carinho de sempre seu cada vez mais admirador e amigo


Paulo Rónai.

1978-08-16
Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1978
Anadia
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Rodrigues Lapa a Paz Andrade. 1978 en 16/08/1978

Anadia, 16/8/78


Meu bom e prezado Amigo

Recebi o rico presente que é o seu livro, A galecidade na obra de Guimarães Rosa, que do coração lhe agradeço. Já o percorri ao de leve; vou lê-lo a fundo, com o maior interesse, e depois lhe direi a minha opinião. Para já, posso adiantar algumas considerações de ordem geral.
O grande escritor mineiro representa efectivamente a velha raiz galego-portuguesa, fundamentalmente implantada em Minas Gerais e ainda vigorosa na fala, nos costumes e no temperamento do homem do sertão (o mineiro é considerado, em defeitos e virtudes, o galego do Brasil). Com essa cultura e esse linguajar construiu Rosa os seus livros. Mas não tenhamos ilusões: não é com essa «estenografia literária» que se faz literatura. Quanto a mim e outros mais, a obra pioneira e revolucionária de um Mário de Andrade (Macunaíma) e de um Guimarães Rosa ficará como um exemplo curioso das audácias e desmesuras a que pode levar a escrita manejada por grandes escritores populistas. Ficará apenas como um documento linguístico, um exercício, por vezes genial, de estilo.
A língua literária não é isso, é justamente o contrário: superação, criteriosa e artística, da língua oral. Este principio, formulado por Bally, o fundador da Estilística moderna, foi aplicado por mim a um seu conterrâneo e meu amigo, o R. Otero Pedrayo, uma espécie de Guimarães Rosa sem genialidade nem sertão. E foi um desastre, como viu. Voltaremos a encontrar-nos e falaremos sobre esta matéria, pois ainda há muito que dizer.
Um abraço cordial e agradecido do seu velho amigo,

Manuel Rodrigues Lapa

1978-11-28
Carta de Paz Andrade a Seoane. 1978
Nova York
Vigo
Nova York
Bos Aires
Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paz Andrade a Seoane. 1978 en 28/11/1978


Vigo, a 28 de Novembre de 1978

Sr. Don
LUIS SEOANE
Montevideo, 1985
BUENOS AIRES (R. ARGENTINA)

Queridos Maruxa e Luis:

Chego axiña de Madrid. Alá fora ao recibir a mala nova do pasamento de Lorenzo Varela. Eu tería sempre de recibir con abraiante pancada semellante mala nova. Mais n-estes dous anos derradeiros, viña sostendo con o noso inesquecente amigo estreita convivencia. Nas miñas viaxes, agora tan amiudo, ao embigo da meseta, sempre compartíamos algunhas horas. Inesquecentes horas, pois si ben o seu corazón debía estar feito unha peneira, a sua mente tiña a hiperlucidez dos que xa levan a morte acochada no soma. N-este caso no seu grande grandeiro corazón.
A primeiros de mes fixen unha viaxe ao Canadá, formando parte d-unha embaixada de parlamentarios. Tanto denantes como despois de tomar e deixar o avión tentei falar con Lorenzo. Marika foi a que contestóu sempre decindo que se atopaba na cama engripado. Falsa imaxe, da que dias despois –eu xa me atopaba en Vigo–, se consideróu liberado.
No dia da morte –madrugada do 25– consentíu ao fin que se chamara a un médico. Marika e Lala –que se atopaba facendolle compaña– chamaron a unha clínica para o levar. Na ambulancia, denantes de ser ingresado, deixóu de alentar. Foi obxeto de autopsia. Os médicos certificaron infarto múltiple. Outro calquera, que non fora Lorenzo, tería dado aos avisos unha interpretación mais real. Aquela mente tan lucidamente construida, funcionóu como tal sempre, até chegar ao profético, menos para sí e na hora decisiva.
Isaac foi quen nos avisóu da desgracia. Despois chamóume Carlos Gurmendez. Carlos tiñalle encarregado un artigo para El País sobre o meu derradeiro libro, A Galecidade na Obra de Guimarães Rosa. Compuxo un verdadeiro ensaio en tres folios. O derradeiro ainda ficaba na máquina. E un traballo fondo, fermoso, e penetrante, como canto íl facía. Denantes escribira un poema, –profético poema–, que despois sustituiu por un limiar en prosa, para Cen Chaves de Sombra. Un libro de poemas meus que está no prelo. O titulo tamen foi escollido por íl. E todo o que escribíu, ademais d-un artigo en Informaciones, desde a sua volta a España. Supoño que aparte algunhas traduccións para editoriaes.
Marika asegura que ten mais obras ineditas. Conviñemos que entregará todol-os orixinaes a Dieste, que tamben se desplazóu con Carmen a Madrid, para o enterro. Cando caian as derradeiras paladas de terra sobre o cadaleito, abrazóuse a min e botóu a chorar. A Rafael me refiro.
Isaac tiróu algunhas fotos, c-unha máquina que mercóu no intre. Tomóu boa nota da numeración da sepultura, pois algún día teremos de resgatar os restos para Terra galega. Esta é unha fonda door adicional co-a que eu fico. O buraco dos mortos onde está e para cinco prazas. Fai o terceiro desde enriba. Cando me din conta de semellante drama macabro xa era tarde. O camposanto da Almudena funciona con unha mecánica ríxida e deshumanizada que pon os cabelos tesos. Temos –ou teredes os que vivades– que resgatar para chan galego os restos do noso compañeiro, frustrado no mellor da sua maturidade mental. Foi unha pena que o fillo de Marika non ordeara a tempo a compra d-un nicho autónomo. O rapaz pol-o demais portouse con grande afervoamento car-a a Lorenzo, no que perdéu seu mellor conselleiro.
Non teño agora tempo nin folgo pra mais. Cunqueiro ten a ideia, compartida por Paco del Riego, de adicar in memorian a páxina literaria do Faro de Vigo, o domingo que ven ou o seguinte.

Lembranzas de Pilar e Alfonso, e longas apertas arrochadas de,

Valentín

[Manuscrito:]

Queridos Maruja y Luis

Como Valentín dice, la muerte de Lorenzo nos dejó a todos impresionados, yo particularmente le tenía un gran afecto, además de su inteligencia, era de una gran finura. Lo traté poco, pero lo quería mucho. Marika me da mucha pena. Hoy le escribiré, no pude ir a darle un abrazo, por tener con nosotros al nieto, y ahora sin Antonia la cosa es más complicada.

Un fuerte abrazo de

Mª Pilar


[Anexo]
[Mecanografado.]

HOMENAXE CATIVO A
VALENTÍN PAZ-ANDRADE
Non sei porqué:
Xílgaros.
Van e veñen,
non sei porqué:
Xílgaros.

Xílgaros que van e veñen
sobor do vento mareiro
do mar de Vigo.

Gaivotas.
Non sei porqué.
Brancas gaivotas azúis
sobor do mar de Vigo.
Non sei porqué.
Non sei porqué, meu amigo.
Tantos anos de sangue prestada que ninguén pagará.
De camelias nos pazos,
de ledos toxos ferintes.
E tí e mais eu, meu amigo,
dándolle cada dia a morte a sua ración.

Lorenzo Varela

1979-02-01
Carta de Palmás a Seoane. 1979
Londres
Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Palmás a Seoane. 1979 en 01/02/1979


Londres, 1 de febreiro de 1979

Benquerido Seoane:

Perdoe o meu atraso en respostar a sua carta e en agradecerlle Imágenes de Galicia. O livro gostoume ben. Todas as xilografías forman un afresco histórico do país. Polo menos así o sinto eu. E non esclúo as lendas –eruditas ou populares– e a paisaxe, núltima instancia elas tamén son produto de situacións concretas e, alén da poesía que podan encerrar, cumpriron unha función.
Non sei se ésta chegará a tempo dantes da sua saida para Galicia, espero que si. A súa doación é, sen dúvida, outro sinal máis, por se facia falla, da súa xenerosidade e fidelidade ao país.
Pola miña banda ando mui enredado polo traballo. Teño que por en castelán o Formação do Brasil contemporâneo de Caio Prado Junior para a Biblioteca Ayacucho de Caracas. A obra é ben interesante ainda que escrita cos pés, o que acrescenta os problemas de tradución. Sei que o Lorenzo Varela estaba facendo algo para ela, mas ignoro se o probe chegou a rematalo.
Soupen da morte del polo Fernando Pérez Barreiro, coa natural sorpresa e tristura. Falei coa Inés, quen me contou o que pasara. Algo verdadeiramente absurdo. Nestes días apareceu en El País o artigo que estaba a escribir sobre A galecidade na obra de Guimarães Rosa do Paz Andrade. Leva unha introdución dese voso amigo uruguaio que traballa no xornal. Non me podo lembrar o nome.
Supoño que lle cadrará estar en Galicia para as eleicións próximas. Non teño nengunha esperanza acerca dos resultados. Hai uns días sairon as candidaturas. O Paz Andrade postulase para o Senado como independente. O Iglesias Corral por UCD d-A Coruña. O C. E. Ferreiro ía por Ourense nas listas do PSOE, mais agora non vai. Hai unha coalición formada polo Partido Obreiro Galego (Camilo Nogueira), os restos do PSG e o recentemente formado Partido Galeguista. Ainda non o sei, pro coido que lles darei o meu voto, mais do que nada para contribuir a un intento de forza política non submetida a Madrí.

Unha forte aperta para Vd. e Maruxa e o meu desexo dunha boa viaxe e estancia na Terra.

Ricardo Palmás

1979-07-15
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1979 en 15/07/1979

Nova Friburgo, 15-7-79


Querido Amigo Valentín Paz-Andrade,

Quando a sua carta de 22 de maio chegou ao Rio, eu estava dando um curso de trinta aulas em Belo Horizonte. Ao voltar, logo fiquei envolvido nos preparativos de minha mudança. Afinal, mudamo-nos para cá no dia 6 deste mês. Na paz destas serras pude enfim ler Cen chaves de sombra e agora posso responder à sua carinhosa carta.
Fiquei tristíssimo ao saber da morte do prefaciador e do ilustrador do seu livro. Lembro-me de ter visto quadros de Luís Seoane na Galicia. Quanto o Lorenzo Varela, o seu «Limiar» e o seu «Homenaxe Cativo» dão uma idéia de seu alto valor. Dou-lhe pêsames sentidos pela morte desses dois amigos fraternos.
O seu livro interessou-me prodigiosamente. Nele há de tudo: lirismo e épica, reminiscências poéticas de autobiografia e historia nacional, balada popular e poesia culta, meditação e balanço. Por meio dele, pode-se reconstruir o que foi a sua existência durante tantos anos trágicos. A mim também aquelas datas dizem muito. Na longínqua Hungria nós também sofríamos com as notícias terríveis que de 1936 em diante nos chegavam da Espanha. Já prevíamos naquele um ensaio do futuro que o nazismo nos preparava; e efetivamente, já em 1940 eu me encontrava num campo de concentração, de onde no ano seguinte partiria para o exílio. Sofríamos com a Espanha e a Galicia, embora quase nada soubéssemos a respeito delas. Agora que as conheço, que lhes entendo a língua e a mensagem, que nelas conto amigos queridos, que basta fechar os olhos para rever-lhes as paisagens –agora é que posso sentir retrospectivamente tudo o horror daquela época.
A sua poesia tem unha vibração particular: mesmo quando alude aos acontecimentos da sua própria vida, sente-se que você fala em nome de uma coletividade; e respira-se em toda ela uma dramaticidade profunda, aguçada pela íntima inspiração folclórica. Dou-lhe parabéns pela sua força, pelo seu dom de comunicação e por ter captado de maneira tão sensível o «genius loci». E felicito-o por não ter abandonado a poesia no meio das vicissitudes de uma vida tão ativa e por servir-se dela para exaltar a memória dos amigos mortos. O seu volume é uma obra de arte e um monumento: para mim completa a imagem que guardara da Galicia no fundo do coração.
No começo desta carta falei-lhe da minha estada em Minas Gerais. Aproveitei um fim de semana para dar um passeio a Cordisburgo, cidade natal do nosso inesquecível Guimarães Rosa. É um lugarejo minúsculo, de ar puro e rara beleza. Pensei em você na casa em que ele nascera e que hoje é museu.
Soube com prazer da excelente repercussão do seu livro sobre A galecidade na obra de G.R. em Cuba sob a pena do escritor Helio Dutra Domínguez. Ele tem razão ao indicar-lhe o acadêmico Antônio Houaiss como pessoa capaz de apreciar o seu ensaio (e, acrescento, a sua poesia também). O endereço de Antônio Houaiss é Avenida Epitácio Pessoa 4560, ap. 1302, Rio de Janeiro, 22471.
Como lhe disse, depois de passar 72 anos em capitais, acabamos de nos mudar a unha casa na serra (onde espero poder acolhe-lo um dia em companhia de D. Pilar). A mudança é grande demais. Por enquanto estamos organizando uma rotina para a nova vida e arrumando a biblioteca (O volume de Adovaldo Fernandes Sampaio deve encontrar-se em algum lugar entre os dez mil volumes ainda empacotados, logo que o encontre. Vou remetê-lo para o seu endereço) Espero poder dedicar o tempo que me resta à leitura e ao estudo.
Na verdade, mudamo-nos antes do que esperávamos. Nora só vai ausentar-se em setembro, mas prefere descer daqui uma vez por semana a permanecer no Rio. Neste momento, aproveitando-se das férias, estão conosco minha filha Laura, que estuda música na Universidade de Nova Yorque e a outra filha Cora, jornalista em Brasília, que trouxe consigo o marido, e os dois filhos. Procuramos aproveitar ao máximo esta rara oportunidade de ter a família reunida.
Drummond acaba de passar uma temporada na Argentina, o que me impedia de entregar-lhe em mão o seu livro de versos: mais deixei-o na casa dele com um bilhete.
Com meus respeitos a D. Pilar, aceite, caro Amigo, um abraço afetuoso de seu fiel


Paulo


PS. Nora manda-lhes saudações cordiais.

1981-05-11
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 11/05/1981

Sítio Pois é, 11 de maio de 1981


Meu caro Amigo,

Acabo de receber o seu belo cartão da Irlanda. Ver que você se lembra de mim em seus passeios deixa-me comovido.
Nós aqui vamos indo. Há pouco tive uma alegria inesperada: a Federação Internacional de Tradutores atribui-me este ano o Prêmio Internacional de Tradução Nathorst, concedido de três em três anos a um tradutor . Sei que o meu caro Amigo vai alegrar-se com essa noticia.
Outro acontecimento que se deu recentemente: saiu na Hungria um volume de ensaios meus intitulado Latim e Sorriso. Foi uma sensação estranha ler-me traduzido por outro para a minha língua materna.
Com meus respeitos para D. Pilar, queira receber meu abraço muito cordial.


Paulo


P.S. Poderia mandar-me por gentileza, coma a possível urgência, dois exemplares do seu livro sobre Guimarães Rosa?

1981-08-30
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 30/08/1981

Sítio Pois é, 30 de agosto de 1981


Querido Amigo,

Perdoe o atraso com que agradeço os dois exemplares de A Galecidade na obra de Guimarães Rosa e o recorte de seu artigo sobre Não perca o seu latim. Seus comentários ao mesmo tempo pertinentes e generosos constituem para mim o mais valioso dos estímulos.
Nos últimos meses temos lido o noticiário proveniente da Espanha com intensa preocupação. Fazemos votos ardentes para que nada mais venha a perturbar a evolução pacífica começada sob tão bons auspícios.
Simultâneamente estou-lhe remetendo o vol.V de Mar de Histórias. O sexto deverá sair proximamente, o sétimo está sendo entregue ao editor; mas falta ainda terminar os volumes VIII a XV. Teremos vida e saúde para tanto?
Estamos tendo aqui um inverno bastante suave e bonito. Em junho e julho tivemos a companhia dos netinhos, cuja visita sempre nos alegra tanto. Desta vez, porém, a alegria ficou empanada pelo fato de os pais dos dois, nossa filha Cora e nosso genro, terem-se separado depois de onze anos de casados. O que nos consola um pouco é que estamos vendo a Cora com mais frequência, pois ela passou a trabalhar no Jornal do Brasil, do Rio. Nossa outra filha, Laura, veio de Nova Iorque passar as férias conosco, mas vimo-a relativamente pouco, pois em dois meses deu diversos concertos em 7 cidades.
Não sei se já lhe contei que por encomenda de minha editora estou trabalhando num vasto dicionário internacional de citações intitulado Entre Aspas, que toma todo o meu tempo. E a respeito a esse trabalho teria um pedido a fazer-lhe. O Amigo me conseguiria um exemplar de Greguerías de Ramón Gómez de la Serna?
Com meus respeitos para D. Pilar, mando-lhe um grato e afetuoso abraço do seu fiel amigo



Paulo Rónai


[Engadido a man na marxe:] PS. Comunique-me, por favor, o número do código postal de Vigo.

1981-11-19
Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981
Rio de Janeiro
Orixinal Transcrición

Transcripción da epistola Carta de Paulo Ronai a Paz Andrade. 1981 en 19/11/1981

Sítio Pois é, 19 de novembro de 1981


Meu caro Amigo,

Como vão você e D. Pilar?
Recebeu a minha carta de 30 de agosto (na qual agradeci os 2 exemplares da Galecidade e o recorte de seu artigo, e pedi a remessa de Greguerías de Ramón Gómez de la Serna)?
Outro dia caiu em minhas mãos um exemplar de João Guimarães Rosa, de Luiz Otávio Savassi Rocha, livro interessante e bem escrito no qual tive o prazer de encontrar (às págs. 46 e 47) uma apreciação justa de seu estudo. Logo escrevi ao autor, pedindo-lhe um exemplar para você; ele mo mandou com sua dedicatória e eu acabo de encaminhá-lo para o seu endereço em encomenda separada.
De uma carta do autor, cito o seguinte trecho que há de interessá-lo:

«A propósito da ‘galecidade’ na obra de J. Guimarães Rosa, há uns poucos dias atrás em palestra proferida aqui em Belo Horizonte, o Prof. José Carlos Garbuglio, da Universidade de São Paulo, fez menção a um curioso episódio que passo a relatar, supondo não seja do conhecimento do Senhor:

Estando o cineasta Roberto Santos interessado em transpor para o cinema o conto A Hora e Vez de Augusto Matraga, perguntou a Guimarães Rosa qual seria a região geográfica mais adequada para a realização das filmagens, tendo recebido uma resposta evasiva, bem à feição do escritor mineiro: «-Num lugar com muita poeira e muita estrela». Ao se dirigir para o referido lugar, o cineasta teria encontrado dificuldades para entender a fala de seus moradores, insulados secularmente entre as montanhas, afastados da civilização litorânea. Como Roberto Santos estava em companhia de um galego, este veio em seu socorro e, para sua grande surpresa, confessou reconhecer na fala daqueles sertanejos resquícios do linguajar próprio da gente de sua província natal...».

[Engadido a man:] Aqui já é a minha carta que continua.
De resto, não há maiores novidades. Começou o verão, isto é, as chuvas: quer dizer que o nosso jardim está uma maravilha, com flores abrindo às centenas, lagartixas correndo, sapos cantando, beija-flores voando. Gostaria muito de recebê-lo um dia neste cantinho do Paraíso. Nesta esperança é que lhes desejo feliz Natal e Ano Bom,

Com saudações afetuosas


Paulo


Endereço de Luiz Otávio Savassi Rocha:
Rua Maranhão 1305, apt. 104, 30000 Belo Horizonte, MG